" Tea on the grass"
óleo s/ tela
2017
“Tea on the grass” – óleo s/ tela 2017
Este trabalho insere-se na série que tenho vindo a tratar sobre a mulher, em técnica
de óleo sobre tela em tamanho de retrato.
O
uso do branco foi o que mais me entusiasmou em termos técnicos, técnica tratada
por muitos pintores, onde as tonalidades de branco são o grande desafio.
As
cores próximas são absorvidas e conferem-lhe outros tons, outras nuances de
cor. As sombras são por isso muito mais desafiadoras e a tridimensionalidade em
branco é muito difícil de representar e acertar.
Em
termos plásticos, o roupão "branco" confere ao quadro a dimensão
necessária para que se entenda a mensagem que se pretende passar.
O
bule, contendo o chá, é acariciado pela mão da mulher e mais uma vez o objecto
que sobressai e lhe confere mais visão tridimensional.
As porcelanas fazem
parte intrínseca de um quotidiano de casa, de intimidade compartilhada.
O
facto de ter optado por uma mulher de cor clara e cabelo loiro tem igualmente
relação com o trabalho que venho realizando sobre a mulher ocidental, que
melhor conheço e pretendo representar nesta fase.
Este
rosto está escondido de propósito, uma timidez e um recato de mulher menos
exposta.
O
cabelo tem um especial tratamento como se fosse secando ao sol, depois de um
banho que se adivinha anterior, e se fosse acariciando da mesma forma que com a
outra mão se acaricia o bule do chá.
As mulheres gostam de se acariciar, faz
parte da sua natureza sensível.
A
importância dada às mãos tem um propósito muito especial, pois com elas tudo se
faz e se desfaz, tudo se acaricia e maltrata. Há todo um movimento corporal
desenhado através dos gestos das mãos.
As
mãos, outro dos grandes desafios na pintura de retrato, de figura humana, que
eu assumi aqui igualmente como um desafio para mim.
Concluindo
Com esta tela pretendo dar
seguimento ao que venho fazendo no meu trabalho em prol da figura feminina, como
“corpo-tralha” que submerge nas sombrias zonas da memória.
Evidenciando o silêncio e o vazio
de todos os nossos sem saberes, esta tela pode ser o lençol do nosso desespero,
a franja das nossas velas, do tecido das nossas velas.
A cultura
feminina está repleta de símbolos e metáforas que são intrinsecamente femininos
quer na sua representação quer no significado cultural que pretendem
transmitir.
Será que, como
dizia Laura Cottingham,“Sexism distorted all aspects of art” ?
Olga Barbosa